Em muitas linhagens esotéricas (ou talvez devêssemos chama-las de exotéricas pois têm muito pouco de impenetrável ou de arcano) acabamos invariavelmente por ter uma litúrgica magistica. A grande questão é, porque é que se gosta tanto de aprender magia? E existe magia astrológica?
Antes de responder a esta questão vamos viajar um pouco no tempo e compreender que o sec. XVIII e Sec. XIX foram importantíssimos com as linhagens das ciências ocultas, e com o designado Ocultismo, como uma linhagem diferente da espírita, que se instalou fortemente em toda a europa, impulsionada por nomes reconhecidos que não importa aqui enumerar, e que depois se massificaram e manifestaram no sec. XX através de ordens ou sociedades como é o caso da Golden Dawn, ou da sociedade Teosófica.
Tudo o que foge da simplicidade, do que existe na natureza, tem já a mente do Homem a tomar posse e a fazer perder valor, ofuscados pelo Ego, que todos dizem trabalhar, quando pouco mais fazem do que brincar aos espirituais, não compreendendo nada do que é o Ego, Deus e Fé, misturando tudo, ao ponto de afirmarem a sua espiritualidade através da Fé e do Ego, em vez do Ser, Sentir e Observar.
Deus manifesta-se em toda a natureza, e Deus é a natureza, sendo que tudo o que fuja dessa simplicidade, que podemos observar, leva-nos a entrar nas trevas, onde o Ego domina, pois ele é o rei das trevas.
E pelo meio ainda surgem as religiões, em que cada missa é um ritual de alta magia, a que todos assistimos achando que será já algo com pouca teurgia magistica, mas que guarda um poder imenso, não fossem estes rituais controlados pelas igrejas. Rituais fundamentais nos processos inconscientes do Ego, enraizados há milhares de anos, usados no novo testamento pela mão do Imperador Constantino por não os conseguir combater ou mudar.
Quantos de vós, nos vossos processos individuais, já executaram de forma rigorosa determinadas práticas que levam a vossa estrutura ao limite e à rutura? O Ego cria uma estrutura, ilusória, mas que no nosso consciente é a nossa estrutura e torna-se difícil compreender que temos que fazer ruir o que achamos que nos dá as bases. Mas se eu não confiar no Mestre, se eu nunca desmontar o Ego, nunca terei o discernimento para compreender o processo até o finalizar, ultrapassar, vivenciar e integrar.
Isto tudo para responder à pergunta que dá o mote ao artigo, sim, existe magia astrológica, e é comum ficarmos seduzidos pela aprendizagem da componente mágica, porque queremos ter poder, queremos ter controlo, sem perceber por vezes que esse é um controlo de manipulação. A única coisa que precisamos de controlar é o Ego, e depois disso, tudo renasce, num trabalho que deve ser acompanhado por Mestres que já tenham feito o caminho operativamente.
Agora, a magia que não trabalha o Ego, essa somente uma fuga para o exterior de si próprio, por si só não tem nada de esotérico, mas é antes um sistema exotérico, e em muitos casos apenas exotérmico, produzindo calor e as suas doenças.
E atualmente a astrologia psicologiaca moderna potencia o Ego, o trabalho individual do Eu desenraizado, sem compreender o Ser e o Sentir, desconectando-se de Deus, o que logo por si torna impossível o trabalho do Ego.
Então em toda a aprendizagem de um verdadeiro iniciado, o que é que se aprende primeiro? O poder da Lua, do Norte e a sua relação com Saturno que lhe é oposto, ou não controlasse os dois signos que são regidos pelos dois luminares, Sol e Lua. A perceber a sua diferença em relação ao Sol e ao Oriente, em relação ao poder e à sua abdicação. Nenhum verdadeiro Mestre vos ensinará magia, aquela realmente precisam para mudar interna e alquimicamente, sem a verdadeira abdicação do fundamental, do Poder.
Enquanto o Poder estiver a assumir o controlo de todo o processo, muita pedra terá de ser polida, e a pessoa não sai do mesmo sítio, dos mesmos ciclos, dos mesmo processos, ritmos e padrões, pois essa é a fronteira de perder tudo, do trabalho ser em vão. O Mestre que apenas orienta e observa, assiste e sorri, pois sabe muito bem o caminho do Aprendiz, muito antes de ele próprio o entender.
No Tarot, o Eremita (Arcano IX) é o que orienta a Luz no caminho, mas para isso ainda tem de confiar e acreditar, mesmo que não entenda (Arcano X - Roda), onde o Ego, a Ignorância e o Poder se encontram, para poder ter a Força (Arcano XI) de controlar o Ego, mudar a visão e o prisma no Pendurado (Arcano XII) e Morrer (Arcano XII – Morte).
Este é um processo no qual aquele que acha que é o Mago, não passa de um malabarista de circo que brinca aos ilusionistas. O verdadeiro trabalho, a verdadeira magia é o controlo mental, e a integração do Ego. Tudo o resto é a manipulação do Ego sobre a Alma.
Na Escola de Astrologia Hermética, procuramos apreender as ligações da Astrologia com todo o trabalho individual, mas para que esse trabalho se possa fazer, e a transformação Escorpiônica ocorra, é fundamental assumir a responsabilidade da escolha.
Duvidem sempre quando alguém diz que o deseja muito fazer, que está pronto para essa viagem, pois esse é o Louco que nada sabe. Quando a verdadeira escolha acontece, e sentimos o corpo a tremer, a mente assustada, o Medo no controlo, e mesmo assim não recuamos, então aí entramos na jornada do Guerreiro.
É para isto que a Astrologia serve, para conhecer os ritmos, os padrões, as frequências, conhecermos as nossas ferramentas e perceber o que precisamos fazer. Nunca faremos o que gostaríamos, pois essa é a nossa área de conforto onde não há aprendizagem, e nunca elevarmos a essência da alma sem essa verdadeira magia.
Portanto esqueçam lá as magias de Tarot, as magias de Astrologia, os rituais dos livros. Se querem realmente fazer magia, a sério e real, terão de penetrar nas vossas trevas, de forma tão avassaladora, onde poderão ter de abdicar de tudo e submeter-se á vontade de Deus. Não é possível conhecer essa mudança sem conexão com Deus e é só para isso que as ferramentas nos servem, e a partir desse ponto muito cuidado com o que pensam e desejam, pois a magia acontece.